11.1.10

Ouvindo os 1001 Discos (Parte 1): Sinatra e Elvis

Há algum tempo atrás, aproveitando a visita do meu irmão, fomos à Livraria Cultura e cada um de nós comprou um livro. Ele comprou o 1001 Filmes para Ver Antes de Morrer. Já eu comprei o 1001 Discos para Ouvir Antes de Morrer. Ambos os livros são uma seleção de filmes e discos, escolhidos por vários respeitados críticos e profissionais da área, que marcaram época pelo seu sucesso ou pela sua qualidade. Pouco depois, meu irmão volta para Brasília e a notícia: ele e a namorada eram loucos o suficiente para assistir todos os 1001 filmes recomendados pelo livro, e em ordem crongológica! Por mais megalomaníaca que tenha sido a idéia dos dois, eu gostei e quis fazer isso também (e, convenhamos, é mais fácil ouvir 1001 discos do que ver 1001 filmes).

Porém, a falta de tempo me desanimava e só de pensar na dificuldade que teria para achar todos os discos já começou a afastar a idéia da minha cabeça. Eis que, então, encontro esse link com todos, absolutamente todos os discos que o livro recomenda para baixar. E aqui encerro a introdução, para dar início à ação: pretendo escutar, sim, todos os 1001 discos, e pretendo fazer isso antes de morrer (haha, sacaram a piada?).


O livro faz uma seleção em ordem cronológica, iniciando com os discos lançados na década de 50, mais precisamente, pelo ano 1955. Embora isso me deixa triste ao pensar que valorosos discos de jazz, blues e barbershop music (atóron!) tenham sido deixados de fora da lista, entendo os motivos: foi só a partir da década de 50 que o LP passou a ter visibilidade e o formato álbum começou a ter o seu conceito definito. Antes disso, os álbuns eram apenas uma pequena coletânea de 5 ou 6 singles de sucesso de um artista. Com o LP, os músicos viram a possibilidade de se gravar, em uma bolacha, diversas músicas e com boa qualidade. Surgia, assim, o conceito de álbum que usamos até hoje. E, por isso, não foi surpresa minha que a lista comece justamente com um álbum conceitual de Frank Sinatra.


0001.In The Wee Small Hours (1955)
Frank Sinatra
Produção: Voyle Gilmore
Selo: Capitol


1. In the Wee Small Hours of the Morning
2. Mood Indigo
3. Glad to Be Unhappy
4. I Get Along Without You Very Well (Except Sometimes)
5. Deep in a Dream
6. I See Your Face Before Me
7. Can’t We Be Friends?
8. When Your Lover Has Gone
9. What Is This Thing Called Love?
10. Last Night When We Were Young
11. I’ll Be Around
12. Ill Wind
13. It Never Entered My Mind
14. Dancing on the Ceiling
15. I’ll Never Be the Same
16. This Love of Mine
O primeiro álbum de Sinatra lançado no formato LP completo de 12" foi também considerado o seu primeiro álbum conceitual. Todas músicas giram em torno do tema de separação, aparentemente motivadas pelo então recente fim do romance entre o cantor e a atriz Ava Gardner. A belíssima faixa de abertura, "In The Wee Small Hours Of The Morning", já dá o tom melancólico e solitário que se dará na maioria das canções seguintes. O tema da separação se apresenta das mais diversas formas, das mais acusadoras, como em "I'll Wind" e "Glad To Be Unhappy", como também na forma de desesperança e morbidez, como se apresentam nas faixas "I'll Never Be the Same", "This Love Of Mine" e "When Your Lover Has Gone". A animada "Moon Indigo", original de Duke Ellington, ganha um peso com a voz grave e arrastada de Sinatra, quase como se mostrasse que a dança e alegria contida na letra fossem apenas saudades de um tempo que se passou. Já a fofa "I'll Be Arround" carrega um pouco daquele esperança do pós-separação, onde se espera que a pessoa mude de idéia e volte atrás com o rompimento. Porém, os melhores momentos do álbum se encontram nas faixas recheadas de lirismo, como na romântica "Dancing On The Ceiling", "Deep In A Dream" e na minha favorita: "Last Night When We Were Young", onde se aborda perfeitamente a sensação do fim de um amor. Depois desse álbum, fica difícil lembrar daquela imagem comum de Frank Sinatra sendo aquele malandro boa-pinta. O que me vem à cabeça é um Sinatra solitário, vagando pelos escuros becos de Los Angeles enquanto fuma um cigarro, tal como a arte da capa desse álbum sugere.


0002. Elvis Presley (1956)
Elvis Presley
Produção: Não consta
Selo: RCA


01. Blue Suede Shoes
02. I'm Couting On You
03. I Got A Woman
04. One-Sided Love Affair
05. I Love You Because
06. Just Because
07. Tutti Frutti
08. Trying To Get To You
09. I'm Gonna Sit Right Down and Cry (Over You)
10. I'll Never Let You Go (Lil' Darlin')
11. Blue Moon
12. Money Honey

O primeiro LP de Elvis Presley não é o que podemos chamar de excelente. Na verdade, muitos críticos afirmam que é um álbum inconsistente, com ainda marcada inexperiência do cantor que ainda estava muito habituado aos seus improvisos no palco, e boa parte das faixas são singles da época que o cantor ainda estava sob contrato da Sun Records. Então por que raios esse álbum entrou nessa lista? Simples, marca o nascimento de um ícone. Sob o selo da RCA, as influências do rock-a-billy do início de carreira, presentes em "Blue Suede Shoes" e "Tutti Frutti" (regravações dos sucessos de Carl Perkins e Little Richard, respectivamente), são deixadas de lada para dar força à influências do country e do blues, como em "I'm Couting On You", "I Love You Because". Alguns conhecedores da música de Elvis dizem que, nesse álbum, está clara a evolução do cantor caipira que iniciou sua carreira em 1953 e que, dentro de alguns anos, se tornaria uma das figuras mais importantes do mundo da música. E de fato, talvez essa evolução tão marcada tenha contribuido para que esse álbum seja tão inconsitente. A voz e o talento de Elvis fica explicito na sua versão rasgada da música de Ray Charles "I Got A Woman", nas oscilações bem delineadas de "Trying to Get to You" e na solidão e melancolia de "Blue Moon".

Na Parte 2, o country de The Louvin Brothers e o jazz de Louis Prima :)!
Créditos: Nobrasil.org

2 comentários:

Lullie disse...

Eu fiquei com MUITA vontade de comprar esse livro. OMG

Marcelo disse...

Tb tô fazendo isso, Camila. No momento, tô em 1979, no. 435, Talking Heads - Fear Of Music.

Tem horas que é um porre. Bewaaaare!

Bjs,
Paradella

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